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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Especialista em Docência do Ensino Superior pela Fibh e graduado em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte. Atualmente é professor do ensino médio. Tem experiência na área de História, com ênfase em História da tecnologia na educação.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Educação Feminina na Capitania das Minas Gerais no Século XVIII

Quando pensamos em educação feminina na Capitania das Minas Gerais no século XVIII, podemos falar em duas formas de educação, a escolar e a não escolar. Para falar da educação escolar devemos citar os dois recolhimentos que foram fundados no século XVIII, na Capitania de Minas, sendo o principal e mais renomado o de Nossa Senhora da Conceição de Monte Alegre de Macaúbas (fundado em 1716), considerado o melhor educandário para as mulheres da elite da Capitania. Em Macaúbas, segundo Villata (2007), a pratica de ensino se limitava as primeiras letras, à doutrina cristã, aos trabalhos de agulha e cantochão. Havia outro recolhimento que ficava em Minas Nova, em uma propriedade rural pertencente a uma da suas recolhidas, dedicado a Santa Ana, que chama-se Casa das Lágrimas, e se fez conhecer por sua pobreza. A pesar das diferenças, os dois funcionavam de maneira informal. Nestas duas casas se resumia toda a expectativa de educação escolar para mulheres, na Capitania de Minas Gerais, uma vez que as atenções educacionais, neste período, se voltavam quase que exclusivamente para os homens.

Apesar das proibições da Coroa, a sociedade mineira preocupou-se em criar estes dois recolhimentos, onde se destinava as meninas até adquirirem idade para o casamento, àquelas que entrariam para a congregação religiosa, as viúvas e mulheres casadas procurando proteção e outras que o recolhimento era imposto pelos maridos por se comportarem mal ou por adultério.
“Na falta de instituições adequadas a esse fim, os conventos e recolhimentos da colônia supriam as necessidades da comunidade local, abrigando, na clausura, jovens à espera do momento adequado para tomarem estado, de acordo com o desejo de seus pais.” (Algranti, 1999).

Estas instituições com os seus muros deveriam funcionar como uma barreira para o mundo exterior. A educação que se esperava obter através dos recolhimentos, era a preparação de suas inclusas para uma vida virtuosa. Assim, puras, intocadas e bem preparadas para desempenhar suas funções domesticas, elas se encontravam prontas para escolher entre as duas opções que a sociedade naquele momento permitia, o casamento honrado ou a vida religiosa. Foi em busca desta educação virtuosa e na expectativa que suas filhas se mantivessem puras, que Chica da Silva internou suas nove filhas em Macaúbas.

No intuito de compreendermos melhor em que situação se encontrava o ensino feminino neste período na America portuguesa, e em especial na Capitania de Minas Gerais, é preciso lembrar que mesmo em Portugal não existia um grande interesse em relação à educação feminina no século XVIII. Nesta perspectiva Lage (s/d), nos mostra que as raparigas só passaram a freqüentar as aulas no final do século XVIII, porém, o que vai prevalecer é uma educação moral e religiosa, ou seja, voltada para os deveres de mãe, que desempenharia a função de educar seus filhos. Como também relata Lopes (2000) em seu livro, onde segundo ela, a educação feminina ministrada na América portuguesa apontava para a desvalorização da instrução feminina, fruto de uma cultura ibérica, impregnada de valores árabes, que acreditavam que a mulher era inferior ao homem e, portanto não precisava aprender a ler e escrever e sim os afazeres domésticos.

Sendo assim a educação que as recolhidas recebiam dentro destas casas, na Capitania de Minas, baseava-se nos valores cristãos e alguns princípios como costurar e fazer renda, que lhes permitissem serem boas esposas e mães dedicadas. “se não havia interesse com a educação feminina na Corte, menos interesse em suas Colônias” (Lage, s/d).

Quando falamos dos ofícios manuais, como costura, bordado e tecelagem, encontramos relatos e documentos de que este aprendizado poderia ocorrer no âmbito domiciliar, onde as relações familiares propiciavam o aprendizado desses saberes, que poderiam acontecer também pela mediação das mestras de costura, que além de ensinar o ofício, deveriam manter as órfãs em um ambiente honesto e recatado. Quando era este o caso, as órfãs deixavam a convivência familiar e eram entregues as mestras a fim de aprimorarem o exercício do ofício. Muitas vezes o aprendizado de um ofício com uma mestra, requeria um afastamento não apenas domiciliar, mas, ocasionalmente, exigia uma mudança para localidades vizinhas, como segundo Oliveira (2008) aconteceu com Bibiana.
Seu pai Manoel Oliveira... morador na Vila de Sabará,... declarou em testamento que teve duas filhas com uma parda chamada Feliciana Maria do Carmo. Após a morte de Manoel, Damazo Francisco de Oliveira, assumiu a tutoria das duas órfãs, Biniana e Maria. Na prestação de contas ao juiz, declarou (...) não teve duvidas em ceder às rogativas que lhe fazia Feliciana Maria do Carmo, mãe das ditas órfãs... A mãe das meninas entregou Bibiana a Maria Martins, moradora em Santa Luzia, “pára aperfeiçoar no exercício de tecer, em cuja casa se conserva com todo honestidade”... Maria permaneceu em sua companhia... “com toda honestidade.” ”(Oliveira, 2008).

Assim percebemos que a introdução das mulheres na educação não escolar, não acontecia somente no ambiente domestico, ocorria também fora da família. É importante lembrar que a família no século XVIII, ainda não é necessariamente a família cristã, uma vez que a família neste período engloba varias pessoas, como concubinas e filhos ilegítimos, formando uma organização que transcende a ideia da família tradicional. O que segundo Oliveira (2008) não diminuía o zelo na criação e na educação moral dos órfãos e órfãs. Os tutores tinham uma grande preocupação em relatar aos juízes de Órfãos que aqueles que lhe cabiam a tutela eram bem criados e alimentos com amor e caridade, e no caso das Órfãs havia o cuidado de afirmar que viviam com honra e honestidade.

A preocupação em preservar a honra das órfãs levava aos tutores a ter o cuidado de não apenas criá-las e possibilitá-las a aprendizagem de um ofício, havia ainda por parte dos tutores uma grande preocupação com a educação voltada para religião. Através dos inventários esta situação se evidencia quando os tutores requerem os rendimentos das órfãs para oferecer vestuário adequado afim de que elas participassem de ritos religiosos como as celebrações das missas.
“Em 1787, António da Rocha, disse que sua tutelada, a órfã Josefa, filha do falecido José Francisco Pascoal, vivia em companhia da mãe, Joana Pereira, que desde a morte do inventariado vinha sustentando e vestindo a menina conforme suas posses. No entanto, a menina agora se acha precisando de roupas para ouvir missas nos dias de preceito...” (Oliveira, 2008).

Conforme Oliveira (2008), nas declaração emitidas pelos Juízes de Órfãos é explicita a aprovação para esse forma de ocupação e aprendizagem, entretanto, não se encontrou nenhum documento no qual o juiz exigisse uma educação letrada para as órfãs.

Neste contexto, percebemos que a grande preocupação ao que se refere à educação feminina no século XVIII, se restringiu em cuidar que as meninas abastardas fossem devidamente preparadas para se tornarem boas esposas e excelentes mães de família. Já as meninas de famílias com menos posses, ou órfãs, eram encaminhadas as mestras para aprenderem ou aperfeiçoarem o ofício da costura. Sendo que em nenhum dos dois casos encontramos indícios de preocupação com o ensino da escrita ou da leitura..




Referências:

ALGRANTI, Leila Menzan. HONRADAS E DEVOTAS: Mulheres da Colônia – condição feminina nos conventos e recolhimentos do Sudeste do Brasil, 1750-1822. 2ª. Ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.

FONSECA, Thais Nivia de Lima. SEGUNDO A QUALIDFADE DE SUAS PESSOAS E FAZENDAS: Estratégias educativas na sociedade mineira colonial. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752006000100010&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15‎ de ‎março‎ de ‎2010.

LAGE, Ana Cristina Pereira. RELAÇÕES POLÍTICO RELIGIOSAS NOS RECOLHIMENTOPS FEMININOS DE MINAS GERAIS NOS SÉCULOS XVIII E INÍCIO DO XIX.

LOPES, Eliane Marta Teixeira Lopes; FILHO, Luciano Mendes Faria; VEIGA e Cynthia Greive (orgs). 500 ANOS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL. Ed. Autentica. Belo Horizonte – 2000. In: RIBEIRO, Arilda Miranda Ribeiro.

OLIVEIRA, Cláudia Fernanda. EDUCAÇÃO FEMININA NA COMARCA DO RIO DAS VELHAS (1750/1800): A construção de um padrão ideal de ser mulher e sua inserção na sociedade colonial mineira. UFMG. Belo Horizonte – 2008. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/FAEC-83VMJS/1/diserta o claudia fernanda de oliveira.pdf. Acesso em: ‎22‎ de ‎março‎ de ‎2010.

RESENDE, Maria Efigênia Lage; VILLATA, Luis Carlos (orgs). HISTÓRIA DE MINAS GERAIS: As minas setecentistas Vol. 2. Ed. Autentica. Belo Horizonte – 2007.

VILLALTA, Luiz Carlos. TERMO DE MARIANA: História e documentação. Ed. UFOP. Ouro Preto – 1998.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Nova modalidade de leitura?

E ainda há quem pergunte por que não temos investimentos direcionados para qualidade na educação!