Desde o
advento dos computadores pessoais no inicio da década de 1980, e
posteriormente, da internet na década de 1990, muito se tem especulado sobre
seu impacto na educação formal. Ainda hoje, passados mais de trinta anos do
início dessa discussão, muitas duvidas continuam a "assombrar" os
profissionais da educação. De fato, se pegarmos textos sobre o assunto datados
do final do século XX, como o do Prof. Moacir Gadotti, "Perspectivas
Atuais da Educação", no qual, segundo ele, naquele momento, "...
muitos educadores, perplexos diante das rápidas mudanças na sociedade, na
tecnologia e na economia, perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns
com medo de perdê-la sem saber o que devem fazer."[1], constataremos
que, em muitos aspectos, essa situação permanece inalteradas, ou muito pouco se
modificou.
Analisando os
avanços tecnológicos alcançados até o momento em que o Prof. Moacir Gadotti escreve,
e comparando com as inúmeras possibilidades de conexão e acesso a internet que temos na atualidade, além
da facilidade de transporte e manuseio de equipamentos, como: tables, ultrabooks, smartfones, chegaremos
a conclusão de que no ano 2000, as tecnologias digitais de informação
e comunicação - TDIC[2] ainda estavam engatinhando.
Entretanto,
apesar de todo desenvolvimento da tecnologia que presenciamos nos últimos
trinta anos, a afirmação de Gadotti, sobre a perplexidade dos educadores diante
desse "novo" e impreciso quadro educacional, em muitos casos, ainda
se faz uma realidade.
No Brasil,
especificamente, o que se vê é uma total fatal de interesse do Governo, em destinar
verbas em prol de uma educação de qualidade[3].
Os educadores, por sua vez, trazem "na ponta da língua" um discurso
de luta pela qualidade na educação, porém, só saem as ruas em busca de melhores
salários. E, em meio a essa situação, os sucessivos ministros que têm passado
pelo Ministério da Educação, não se cansam de repetir o "mesmo velho
discurso", retórico, que elege as TDIC como a salvadora da educação do
país. Mas, será que somente o uso de computadores e internet nas escolas é suficiente para se alcançar uma educação de
qualidade?
Historicamente
o que se percebe é que as tecnologias por si só, não são capazes de transformar
a realidade educacional em sua volta. Caso contrário relatos como o do
levantamento realizado pela UNESCO, em parceria com o MEC em 2005, em seis
escolas brasileiras, que diga-se de passagem, foram previamente selecionadas
pelas Secretarias de Educação nos estados do Piauí e da Bahia, estados nos
quais foram escolhidas três escolas, respectivamente, e, em que a situação de
descaso e abandono dos equipamentos de informática não seriam uma realidade
isolada no Brasil. Fato que foi evidenciado e documentado da
seguinte forma: "Os equipamentos tecnológicos disponíveis na escola
(computadores, TV e vídeo, antena parabólicas), na sua maioria, adquiridos pelo
Ministério da Educação e distribuídos às escolas, ao longo dos anos sem
renovação, atualização e quase nenhuma manutenção, ficaram obsoletos. Ainda,
apresentavam problemas de acesso à
Internet, inviabilizando o planejamento e a execução de atividades pedagógicas
como o uso desses recursos." [4]
Outro relato que podemos citar é a matéria que foi veiculada pela
revista Veja, em 2007 na reportagem intitulada “O Computador não educa,
ensina”, que tenta expor uma situação que se faz realidade em todo o território
nacional, e foi descrita da seguinte maneira: "As
experiências brasileiras de levar computadores às escolas públicas, até então,
foram um fiasco. Elas esbarraram em dificuldades básicas. A antropóloga
americana Juliane Remold dedicou dois anos à observação de trinta escolas
brasileiras equipadas com computador e traçou um cenário desolador. A metade
das máquinas 55 acumulava pó nos laboratórios porque careciam de manutenção ou
eram ignoradas pelos professores, que muitas vezes não sabiam sequer ligar o
equipamento. O restante dos computadores, mesmo em uso, servia apenas às
burocráticas aulas de informática." [5]
Destarte, se por um lado, podemos dizer que
nos dias atuais, os educadores têm a sua disposição inúmeros recursos que podem
e devem contribuir para a construção de uma educação de qualidade[6]. Por outro lado, o que se
percebe é que, mais do recursos tecnológicos, é preciso que se forme educadores
conscientes das mudanças provocadas pelo advento e disseminação das TDIC na
sociedade. Precisamos de docentes que estejam preparados, não só para utilizá-la
como recurso didático, mas, mais do que isso, que os utilizem como um instrumento
que possibilite uma renovação constante de sua pratica, e uma aproximação
ascendente na busca da tão sonhada educação de qualidade, ou como escreveu Gadotti, o educador deve-se tornar
"... um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua
própria formação."[7]
Entretanto, para que isso se torne uma
realidade no cenário educativo brasileiro, acredito que, se faz necessário uma reformulação nos cursos
universitários de licenciatura, com o intuito de formar futuros professores
antenados com o contexto pós-moderno que se faz presente neste mundo
globalizado em que vivemos. Professores que sejam capazes de interagir de forma
amigável com as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação – TDIC em seu
cotidiano, ou não, mas que o façam por uma opção consciente, e não por
limitação. Professores que sejam capazes de incluir e capacitar seus alunos
para conviver com a realidade, em que as fronteiras se tornaram tênues e os limites
questionáveis. Pois, ao que parece, só por meio de investimentos no setor e da
conscientização dos atores envolvidos, é que se conseguirá mudar o cenário
atual da educação brasileira, seja em relação à implantação das TDIC, seja na
busca de uma melhor qualidade para a educação.
Referências:
GADOTTI. Moacir. Perspectivas Atuais da
Educação. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9782.pdf. Acesso
em:27/02/2014. 2000, 11p.
RIBEIRO, Antonia. CASTRO, Jane Margareth.
REGATTIERI, Marilza Machado Gomes. Tecnologias na Sala de Aula: Uma Experiência
em Escolas Públicas de Ensino Médio. UNESCO/MEC, 2007.
WEINBERG, Mônica e
RYDLEWSKI, Carlos (2007). O Computador não educa, ensina. Revista Veja, São
Paulo. Ed.Abril, Nº2008, p. 87-9,16 de maio de 2007. Disponível em:
http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx Acesso em: 04/09/2012.
[1] Gadotti, 2000, p.4
[2] No restante do artigo será usada a
sigla TDIC para se referir as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação.
[3] No Brasil, quando se fala em verbas para educação, os governos federais, estaduais e municipais
se limitam a cumprir o mínimo acordado com as agencias internacionais.
[4] RIBEIRO, 2007, p.12-13.
[6] É claro que existem no Brasil
municípios que não têm nem energia elétrica, porém, nos grandes centros urbanos
podemos dizer que isso é uma realidade.
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