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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Especialista em Docência do Ensino Superior pela Fibh e graduado em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte. Atualmente é professor do ensino médio. Tem experiência na área de História, com ênfase em História da tecnologia na educação.

domingo, 5 de junho de 2011

O TRÁFICO NEGREIRO

Gravura do século XIX disponível em:http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2645,1.shl



O maior contato dos europeus com a África, iniciado no século XV, revelou há existência de um grande número de habitantes e uma imensa diversidade cultural. Entretanto, os europeus não conseguiram enxergar nesses povos e em suas culturas, traços de civilização e, enquanto europeus, não levaram em consideração que aqueles povos tinham uma cultura diferente. Assim os povos africanos entraram para história como bárbaros que podiam ser escravizados, ocupando o lugar na história que lhe foi atribuído pelo trafico de escravos.

Com o descobrimento da América pelos espanhóis, criou-se uma grande necessidade de mão-de-obra que a principio foi suprida pelos próprios habitantes da América. Entretanto, a própria Coroa espanhola influenciada pela Igreja e pelos protestos de Las Casas, proibiu o uso dos habitantes locais na condição de escravo, salvo no caso de guerra justa e, não podemos nos esquecer da ecomiendas. Com a escassez de trabalhadores e o recrudescimento das plantações de cana-de-açúcar, café, tabaco e algodão e, com a exploração das minas de ouro e prata, à Espanha não restou alternativa senão recorrer ao uso de mão-de-obra africana.

Destarte, se a Espanha tinha necessidade crescente de mão-de-obra, Portugal, há tinha em demasia. Isso óbvio, se pensarmos na mão-de-obra africana que era garantida a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, no qual a África “pertencia” aos portugueses. Assim durante um bom tempo os ibéricos detiveram o monopólio do tráfico negreiro que posteriormente se alastrou a país como Inglaterra, França e Holanda.

O Tráfico negreiro foi, e, ainda é, em muitas ocasiões, explicado como uma simples atividade de lucro e obtenção de mão-de-obra, o que talvez, em certo sentido, tenha acontecido mesmo. Entretanto, há vários outros aspectos do tráfico negreiro que merecem nossa atenção, como os relatados por Jaime Rodrigues que em seu livro faz uma abordagem do tráfico sobre o ponto de vista do negro, dando assim, foz aqueles que foram silenciados pela violência.

Um aspecto muito explorado é o impacto do trafico sobre as sociedades europeias e americanas, e como esta mão-de-obra foi crucial para exploração e desenvolvimento das terras “descobertas”. Entretanto, pouco se fala sobre os impactos do tráfico negreiro na África e seus habitantes. Um continente que tinha tudo para ser um dos que mais avançaria demograficamente, vê seu crescimento comprometido pelo tráfico, ao ponto de entre 1500 e 1870 registrar a menor taxa de crescimento demográfico entre todos os continentes.

Economicamente o tráfico negreiro não trouxe nenhum crescimento para os africanos. Todo lucro gerado com a compra e venda dos escravos eram empregados no próprio comercio e tráfico negreiro. Por outro lado, para os europeus a única função da África era fornecer escravos e, a política colonial, impedia qualquer empreendimento comercial que competisse diretamente com o comercio europeu, o que prejudicou muito o desenvolvimento africano.

Em 1831 com a proibição do tráfico negreiro para o Brasil, têm inicio há um período de clandestinidade dos navios negreiros e, devido a esta proibição, torna-se necessário algumas medidas para burlar a lei como, ensino de algumas palavras em português aos africanos, pois, o não conhecimento da língua portuguesa pelos escravos aprisionados, configuraria em tráfico, o que era proibido. Outra medida tomada foi à utilização de embarcações menores, mais velozes e, a partir do século XIX, os traficantes de escravos começaram a utilizar navios a vapor no intuito de facilitar, caso fosse necessário, a fuga do patrulhamento dos ingleses e brasileiros.

Com um pouco de pesquisa sobre o tráfico negreiro podemos perceber que sua prática foi  extremamente negativa para África, social, demográfica, economicamente. Por isso, quando pensarmos e falarmos sobre o tráfico negreiro é preciso que saibamos que a escravidão já existia na África muito antes dos europeus chegarem sim. Porém, diferentemente do que até pouco tempo era amplamente divulgado, precisamos saber também que esta escravidão na sociedade africana tradicional, não tinha fins comerciais e nem o escravo era considerado uma mercadoria, mais que isso, normalmente sua condição de escravo era passageira. A escravidão, ou melhor dizendo, a escravatura africana tinha como finalidade trazer prestigio e poder em uma proporção direta com o numero de dependentes que podia ser mantido pelo seu senhor. Portanto, se alguns soberanos africanos começaram a guerrear como forma de criar um contingente de escravos com a finalidade de vendê-los ao tráfico, foi devido à influência dos europeus, que para realizar seus objetivos faziam o que fosse preciso, não se importando com a condição do outro.

Destarte, se quisermos entender um pouco melhor as questões que permearam o tráfico negreiro, é preciso buscar uma visão multiforme alicerçada através dos vários atores que fizeram parte deste mercado exportador de mão-de-obra, seja como comerciante ou comercializado. Contudo, devido a pouca importância que até recentemente era atribuída, à história da África, ainda temos muito que aprofundar nas pesquisas sobre o tráfico negreiro para que possamos compreender melhor e tentar traçar uma história que se aproxime do verossímil.


REFERENCIA


GOLDSTEIN, Ilana. A REDE SOCIAL DO TRÁFICO
NEGREIRO. In Dossiê – Memória da Escravidão. Disponível em:
http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2645,1.shl – acesso: 20/05/2011

M’BOKOLO, Elikia. ÁFRICA NEGRA: História e
Civilizações – Toomo I (até o século XVIII). Ed: Edufba – 2009.


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