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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Especialista em Docência do Ensino Superior pela Fibh e graduado em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte. Atualmente é professor do ensino médio. Tem experiência na área de História, com ênfase em História da tecnologia na educação.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Uma Breve Perspectiva do Cenário Educativo Brasileiro no Século XXI

Desde o advento dos computadores pessoais no inicio da década de 1980, e posteriormente, da internet na década de 1990, muito se tem especulado sobre seu impacto na educação formal. Ainda hoje, passados mais de trinta anos do início dessa discussão, muitas duvidas continuam a "assombrar" os profissionais da educação. De fato, se pegarmos textos sobre o assunto datados do final do século XX, como o do Prof. Moacir Gadotti, "Perspectivas Atuais da Educação", no qual, segundo ele, naquele momento, "... muitos educadores, perplexos diante das rápidas mudanças na sociedade, na tecnologia e na economia, perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns com medo de perdê-la sem saber o que devem fazer."[1], constataremos que, em muitos aspectos, essa situação permanece inalteradas, ou muito pouco se modificou.

Analisando os avanços tecnológicos alcançados até o momento em que o Prof. Moacir Gadotti escreve, e comparando com as inúmeras possibilidades de conexão e acesso a internet que temos na atualidade, além da facilidade de transporte e manuseio de equipamentos, como: tables, ultrabooks, smartfones, chegaremos a conclusão de que no ano 2000, as tecnologias digitais de informação e comunicação - TDIC[2] ainda estavam engatinhando.

Entretanto, apesar de todo desenvolvimento da tecnologia que presenciamos nos últimos trinta anos, a afirmação de Gadotti, sobre a perplexidade dos educadores diante desse "novo" e impreciso quadro educacional, em muitos casos, ainda se faz uma realidade.

No Brasil, especificamente, o que se vê é uma total fatal de interesse do Governo, em destinar verbas em prol de uma educação de qualidade[3]. Os educadores, por sua vez, trazem "na ponta da língua" um discurso de luta pela qualidade na educação, porém, só saem as ruas em busca de melhores salários. E, em meio a essa situação, os sucessivos ministros que têm passado pelo Ministério da Educação, não se cansam de repetir o "mesmo velho discurso", retórico, que elege as TDIC como a salvadora da educação do país. Mas, será que somente o uso de computadores e internet nas escolas é suficiente para se alcançar uma educação de qualidade?

Historicamente o que se percebe é que as tecnologias por si só, não são capazes de transformar a realidade educacional em sua volta. Caso contrário relatos como o do levantamento realizado pela UNESCO, em parceria com o MEC em 2005, em seis escolas brasileiras, que diga-se de passagem, foram previamente selecionadas pelas Secretarias de Educação nos estados do Piauí e da Bahia, estados nos quais foram escolhidas três escolas, respectivamente, e, em que a situação de descaso e abandono dos equipamentos de informática não seriam uma realidade isolada no Brasil. Fato que foi evidenciado e documentado da seguinte forma: "Os equipamentos tecnológicos disponíveis na escola (computadores, TV e vídeo, antena parabólicas), na sua maioria, adquiridos pelo Ministério da Educação e distribuídos às escolas, ao longo dos anos sem renovação, atualização e quase nenhuma manutenção, ficaram obsoletos. Ainda, apresentavam  problemas de acesso à Internet, inviabilizando o planejamento e a execução de atividades pedagógicas como o uso desses recursos." [4]

Outro relato que podemos citar é a matéria que foi veiculada pela revista Veja, em 2007 na reportagem intitulada “O Computador não educa, ensina”, que tenta expor uma situação que se faz realidade em todo o território nacional, e foi descrita da seguinte maneira: "As experiências brasileiras de levar computadores às escolas públicas, até então, foram um fiasco. Elas esbarraram em dificuldades básicas. A antropóloga americana Juliane Remold dedicou dois anos à observação de trinta escolas brasileiras equipadas com computador e traçou um cenário desolador. A metade das máquinas 55 acumulava pó nos laboratórios porque careciam de manutenção ou eram ignoradas pelos professores, que muitas vezes não sabiam sequer ligar o equipamento. O restante dos computadores, mesmo em uso, servia apenas às burocráticas aulas de informática." [5]

Destarte, se por um lado, podemos dizer que nos dias atuais, os educadores têm a sua disposição inúmeros recursos que podem e devem contribuir para a construção de uma educação de qualidade[6]. Por outro lado, o que se percebe é que, mais do recursos tecnológicos, é preciso que se forme educadores conscientes das mudanças provocadas pelo advento e disseminação das TDIC na sociedade. Precisamos de docentes que estejam preparados, não só para utilizá-la como recurso didático, mas, mais do que isso, que os utilizem como um instrumento que possibilite uma renovação constante de sua pratica, e uma aproximação ascendente na busca da tão sonhada educação de qualidade, ou como escreveu Gadotti, o educador deve-se tornar "... um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação."[7]

Entretanto, para que isso se torne uma realidade no cenário educativo brasileiro, acredito que,  se faz necessário uma reformulação nos cursos universitários de licenciatura, com o intuito de formar futuros professores antenados com o contexto pós-moderno que se faz presente neste mundo globalizado em que vivemos. Professores que sejam capazes de interagir de forma amigável com as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação – TDIC em seu cotidiano, ou não, mas que o façam por uma opção consciente, e não por limitação. Professores que sejam capazes de incluir e capacitar seus alunos para conviver com a realidade, em que as fronteiras se tornaram tênues e os limites questionáveis. Pois, ao que parece, só por meio de investimentos no setor e da conscientização dos atores envolvidos, é que se conseguirá mudar o cenário atual da educação brasileira, seja em relação à implantação das TDIC, seja na busca de uma melhor qualidade para a educação.


Referências:

GADOTTI. Moacir. Perspectivas Atuais da Educação. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9782.pdf. Acesso em:27/02/2014. 2000, 11p.

RIBEIRO, Antonia. CASTRO, Jane Margareth. REGATTIERI, Marilza Machado Gomes. Tecnologias na Sala de Aula: Uma Experiência em Escolas Públicas de Ensino Médio. UNESCO/MEC, 2007.

WEINBERG, Mônica e RYDLEWSKI, Carlos (2007). O Computador não educa, ensina. Revista Veja, São Paulo. Ed.Abril, Nº2008, p. 87-9,16 de maio de 2007. Disponível em: http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx Acesso em: 04/09/2012.



[1] Gadotti, 2000, p.4
[2] No restante do artigo será usada a sigla TDIC para se referir as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação.
[3] No Brasil, quando se fala em verbas para educação,  os governos federais, estaduais e municipais se limitam a cumprir o mínimo acordado com as agencias internacionais.
[4] RIBEIRO, 2007, p.12-13. 

[5] WEINBERG, 2007, p.90.
[6] É claro que existem no Brasil municípios que não têm nem energia elétrica, porém, nos grandes centros urbanos podemos dizer que isso é uma realidade.
[7]GADOTTI. 2000, p.8

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